Final do mês passado assisti a trilogia de Emmanuelle com Sylvia Kristel. É a primeira vez que assisto esses filmes em sequência e, dessa vez, ficou ainda mais marcada a impressão que eu já possuía sobre eles: para mim não são meros filmes eróticos ou pornôs soft-core, são filmes filosóficos elucubrando sobre o amor livre.
Comprei Emmanuelle e Emanuelle: a antivírgem nas lojas Americanas.
Adeus Emmanuelle eu comprei em: http://www.eovideolevou.com.br/
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EMMANUELLE
No primeiro temos Emmanuelle, a virgem – não que ela seja realmente virgem no início desse filme, mas carrega uma certa inexperiência sobre esse novo modo de vida junto ao seu marido Jean (Daniel Sarky), que permite amar, ou melhor dizendo, transar com quem quiser, sendo livre e espontânea sua escolha.
Quase todos envolta de Emmanuelle, no entanto, parecem pessoas fúteis: esposas de maridos ricos que não tem nada para fazer e usam esse modo de vida como forma de aliviar o tédio. Apenas Jean e Marie-Ange (Christine Boisson) parecem carregar de fato um sentimento de espírito livre, com Jean entendendo que ele não possuí sua esposa, não é seu dono, portanto ela tem a liberdade de transar como quem ela desejar. Marie-Ange parece ser uma libertária nata e carrega os entendimentos sobre o amor livre de uma forma praticamente natural.
Até que a personagem principal entrega não só seu corpo, mas seu coração a uma arqueóloga chamada Bee (Marika Green), a única das mulheres europeias em Bangkok que não parece ser fútil, visto que também é a única que possui uma vida ocupada. Dizer que seu nome demonstra sua personalidade trabalhadora não é uma digressão sem sentido, a relação é deixada explícita no próprio filme.
O amor de Emmanuelle por Bee é, talvez, um dos pontos mais marcantes do filme. Em minha interpretação mostra como heroína ainda não consegue, de certa forma, separar o sexo do amor. Ela tem a capacidade do poli-amor, visto que não deixa de amar Jean para amar Bee, mas sua necessidade sexual por ela está diretamente ligada ao romantismo, ao amor das pessoas comuns. Isso fica evidente quando Emmanuelle revela seu amor, mas Bee não corresponde. Ainda que seja colocada à margem do grupo de adeptos ao amor livre, ela não relaciona sua atração sexual por Emmanuelle a um amor passional. Bee entende que seu sentimento é a atração pela carne.
Outro motivo que faz esse evento ser tão importante é a reação de Jean que, muito embora seja adepto do amor livre, sente-se traído por Emmanuelle. Jean carrega todas as mágoas de um homem traído. Sentindo-se solitário vai a um bordel e se mete em uma briga contra um bêbado, depois vai chorar suas mágoas com Ariane (Jeanne Colletin) que, primeiramente, diz sentir repulsa desse comportamento mesquinho de Jean e, em seguida, diz que pelo contrário, aquilo é motivo de riso para as pessoas de seu pequeno grupo.
Esse evento demonstra que tanto Emmanuelle quanto seu marido precisam evoluir para alcançar a plenitude nesse estilo de vida.
Após isso Jean precisa viajar a negócios e Emmanuelle é deixada aos cuidados de Mario, um homem mais velho que faz o papel do mentor na jornada da nossa heroína. Mario guia Emmanuelle numa espécie de ritual pagão composto por sexo, ópio e estupro. Após superar esse ritual, a heroína volta ao lar, pronta para se entregar ao Mario que ainda a rejeita, dizendo não querer transar com ela, mas com a nova Emmanuelle na qual ela irá se transformar. A protagonista é deixada a só em seu quarto e ela começa a se produzir com maquiagens e roupas finas, mostrando agora, de frente ao espelho, um rosto mais maduro.
EMMANUELLE: A ANTIVÍRGEM
Não sei se há muito o que interpretar sobre o segundo filme. Na minha opinião sua história é banal em relação aos outros, mas necessária para que se chegue à conclusão. Duas coisas me intrigam nesse filme:
1º porque trocaram o ator que interpreta Jean, que deixou de ser Daniel Sarky e passa a ser Umberto Orsini
2º porque mudaram a profissão de Jean de diplomata para arquiteto (apenas sugerido nesse filme, mas deixado explícito no próximo).
Essas incoerências me incomodam, porque ou demonstram uma inaptidão em manter a história coerente ou demonstram um desrespeito ao filme anterior, que – sendo a obra prima que é – não merece ser ignorado.
Passada a evolução pessoal em Bangkok na qual ela busca internalizar o conceito de uma vida realmente livre, Emmanuelle acompanha seu marido para Hong Kong. Emmanuelle agora é a antivírgem. Ela e seu marido estão completamente livres, deixando para trás os ciúmes e preconceitos de outrora para viver na plenitude de seu amor, sem ciúmes e narrando um para o outro suas aventuras sexuais na intenção de manter a sinceridade no casamento.
Em dado momento Emmanuelle parece sentir ciúme por Jean ter transado com outra, no entanto fica incerto se foi pela transa, ou se foi pelo lugar em si, pois a heroína reclama com seu marido que com essa outra mulher ele transou no mar, mas com ela mesma o máximo que tiveram foi transar em uma banheira. Emmanuelle parece ter sentido como se as outras comessem do melhor fruto, enquanto ela – na condição de esposa – ficou com as sobras. Não é algo muito importante para esse filme, visto que esse tema não é desenvolvido, mas é um elemento importante para o próximo filme.
Fora isso não acho que há muito mais sobre o que falar. Não é um filme muito substancial.
ADEUS EMMANUELLE
Aqui fecha-se a obra. Pelo menos para mim que desconsidero os filmes seguintes que não são estrelados pela Sylvia Kristel. Se o segundo filme tem o subtítulo de a anti-virgem, este deveria ser chamado de a anti-Emmanuelle.
O tema principal aqui são as hipocrisias e o tema do amor livre é colocado em cheque, mas não necessariamente em um cheque-mate. Jean (ainda Umberto Orsini) vai se mostrando mais hipócrita, principalmente em relação a um casal amigo em que a esposa Clara (Sylvie Fennec), para agradar o marido, tenta, mas não consegue, seguir o estilo de vida livre de Emmanuelle. Mais tarde o casal surge novamente reatado e Jean começa a mostrar uma faceta machista, culpando Clara pelo insucesso do casamento e julgando que Clara provavelmente usou os filhos para trazer o marido de volta. Emmanuelle, por outro lado, mostra-se irritada com o machismo de seu esposo e preocupada com o destino do casamento de sua amiga.
Porém, o relacionamento aberto da personagem título e Jean fica abalado com a chegada de Gregory (Jean-Pierre Bouvier), um diretor de cinema que vai a Seicheles procurar um bom cenário para rodar seu filme. Gregory se coloca contrário à ideologia do erotismo. Emmanuelle se sente imediatamente atraída por ele, e o procura intensamente até conseguir transar com ele, contudo, após a transa, Gregory a trata como uma prostituta.
Gregory diz que só consegue amar uma mulher de cada vez. No entanto, seu passado o condena, como narrado por outra personagem. Ele tentara um relacionamento aberto com sua ex-esposa, mas a mulher tentou suicídio quando ele a contou sobre suas amantes, tempo depois, após melhorar, sua ex-esposa o abandonou para se casar com o médico que salvou sua vida.
Os dois fazem as pazes depois, o que provoca ciúmes em Jean, que começa a usar da mentira e da violência física para manter Emmanuelle ao seu lado e quase consegue, se Chloe, amiga de da heroína com sua própria trágica e hipócrita história, não contasse a Emmanuelle sobre as mentiras de Jean, induzindo-a a ir embora para a França em busca de Gregory.
Ao partir de Seicheles, Clara comenta com Emmanuelle que Jean só a deixava livre para guardá-la, para tê-la sempre por perto, que é igual a todos os homens, só que mais esperto. Ainda que não negando a possibilidade, dizendo que os foram felizes vivendo da forma que viveram foi bom e procuraram ser realmente sinceros. Quanto ao seu futuro com Gregory, ela sabe que tanto pode dar certo, quanto pode dar errado, afinal ela mal o conhece. A única forma de saber como será o seu futuro é não recuar e ir atrás dele. Jean termina com Chloe como sua companheira, mas com a certeza que a monotonia da vida comum irá trazer sua esposa de volta.
O filme deixa um gosto de que mesmo a mais extrema liberdade pode se tornar uma prisão e pode se tornar cansativa. As palavras de Clara sobre Jean são ecoantes. Talvez Jean fosse sim um manipulador, dando liberdade sexual a sua esposa apenas para suprir as próprias fantasias sexuais e mantê-la por perto. Só que Gregory não é menos hipócrita, ao dizer que só consegue amar apenas uma mulher de cada vez, visto que, quando ainda estava com sua ex-esposa, teve amantes.
Tudo o que resta, no fim das contas, de sincero, é Emmanuelle em sua intensa busca pela liberdade com a certeza de que a única forma de consegui-la é sempre correr atrás do novo, sem se deixar prender pelas amarras do medo. Emmanuelle se despede, de sua amiga, do público e de sua vida antiga, mas com a certeza de que sempre há tempo de recomeçar.
A princípio temos uma personagem ingênua e inexperiente, tanto sobre o erotismo como sobre o amor e a própria liberdade. Emmanuelle recebe um tratamento de choque em que aprende a redescobrir o prazer que reside no próprio corpo. Sexo não é apenas sexo, nem é sinônimo de amor, mas é um culto, uma arte e por essa causa não deve ser suprimido, reprimido, escondido nem temido, mas sim apreciado livremente.
A seguir a vemos gozar dessa sua nova liberdade, dedicando seu amor e seu sexo à quem ela desejar. Perpetuando e ensinando essa sua filosofia de vida às novas gerações.
Por fim, Emmanuelle já livre e gozando da liberdade se descobre prisioneira da própria filosofia. E quando uma linha de pensamento se torna velha e desgastada é preciso procurar outra coisa, se despir das hipocrisias e procurar sempre aquilo que lhe é novidade. E o novo é sempre o desconhecido. Como afirma a personagem de Sylvia Kristel no fim do 3º filme ao ser perguntada por Clara sobre Gregory: "Não sei, mal o conheço, talvez seja um tirano. Eu verei". Gregory representa esse futuro novo e nebuloso, talvez essa novidade não dê certo, mas também pode ser que ali se esconda a continuidade da alegria e só existe uma forma de descobrir.
Afinal, como dizia o poeta, aquele rapaz latino americano sem dinheiro no banco e vindo do interior: "O que algum tempo era jovem, novo, hoje é antigo. E precisamos todos rejuvenescer".
VEREDITO
Como eu sugeri antes, para mim esses filmes formam uma trilogia filosófica sobre liberdade do amor.A princípio temos uma personagem ingênua e inexperiente, tanto sobre o erotismo como sobre o amor e a própria liberdade. Emmanuelle recebe um tratamento de choque em que aprende a redescobrir o prazer que reside no próprio corpo. Sexo não é apenas sexo, nem é sinônimo de amor, mas é um culto, uma arte e por essa causa não deve ser suprimido, reprimido, escondido nem temido, mas sim apreciado livremente.
A seguir a vemos gozar dessa sua nova liberdade, dedicando seu amor e seu sexo à quem ela desejar. Perpetuando e ensinando essa sua filosofia de vida às novas gerações.
Por fim, Emmanuelle já livre e gozando da liberdade se descobre prisioneira da própria filosofia. E quando uma linha de pensamento se torna velha e desgastada é preciso procurar outra coisa, se despir das hipocrisias e procurar sempre aquilo que lhe é novidade. E o novo é sempre o desconhecido. Como afirma a personagem de Sylvia Kristel no fim do 3º filme ao ser perguntada por Clara sobre Gregory: "Não sei, mal o conheço, talvez seja um tirano. Eu verei". Gregory representa esse futuro novo e nebuloso, talvez essa novidade não dê certo, mas também pode ser que ali se esconda a continuidade da alegria e só existe uma forma de descobrir.
Afinal, como dizia o poeta, aquele rapaz latino americano sem dinheiro no banco e vindo do interior: "O que algum tempo era jovem, novo, hoje é antigo. E precisamos todos rejuvenescer".


