Comprei o dvd por meio do site oficial da Liberato Produções:
Boi Aruá é um filme de animação dirigido pelo baiano Chico Liberato, com roteiro do próprio cineasta e de sua esposa Alba Liberato. A história é uma adaptação de diversas fontes como cordéis e romances populares do ciclo do boi, mas principalmente o conto homônimo de Luís Jardim.
O livro Boi Aruá, de Luís Jardim, é um caso de história dentro da história. É sobre uns meninos que ouvem histórias de uma velha negra, sendo uma dessas histórias a que dá origem ao filme. No entanto há muitas liberdades em relação a obra do Luís Jardim, a começar pelo nome do personagem principal que no filme é chamado de Tibúrcio.
No filme, tal como no livro, Tibúrcio é um personagem orgulhoso e autoritário. Tudo deve ser feito à sua maneira e ele procura demonstra com seu punho firme que é o melhor em todas as tarefas. Uma demonstração de sua personalidade está em um quadro da sala de sua casa, que mostra seu retrato sisudo adornado com os dizeres: eu por primeiro, os amigos por derradeiro. Tibúrcio então é atormentado pela aparição de um boi mítico inalcançável, o boi Aruá, que em sua primeira aparição transforma-se logo na constelação Cruzeiro do Sul. Esse conceito de um boi metamorfo, é um adição original do filme (se muito bem me recordo da história de Jardim). A aparição desse barbatão, entretanto, é profetizado por um negro corcunda como prenúncio de tempos ruins. A vontade descabida de Tibúrcio em mostrar-se valente o suficiente para pegar o boi Aruá leva-o a sua ruína. Até ouvir a profecia de uma velha senhora de que aquele que conseguir capturá-lo terá grande fortuna. Tibúrcio precisa vencer o boi para recuperar-se da ruína, mas para isso será necessário antes vencer a si mesmo e o próprio orgulho.
No filme, Chico Liberato mistura um desenho inspirado nas xilogravuras chapadas dos gravuristas dos folhetos de cordel e armoriais, como Jota Borges e Gilvan Samico, com um estilo ligeiramente surrealista que me lembra um pouco Chromophobia de Raoul Servais e outras animações da mesma época. Essa mistura de cores e padrões surrealistas com a estética de inspiração medieval típica das xilos de cordel cria no filme um ambiente estético mítico bastante característico que o aproxima à estética armorial.
Em minha opinião, o filme peca apenas em sua trilha sonora. Apesar de contar com belíssimas músicas originais de Carlos Pita e Elomar Figueira Mello, a trilha criada por Ernst Widmer é, na realidade, uma tentativa não tão bem sucedida do compositor suíço de criar uma sinfonia brasileira-sertaneja. O resultado é uma confusão sonora que ora dá tons demasiadamente sombrios, ora promove uma barulheira na tentativa de criar uma onomatopeia musical para o som de cascos de cavalo. A trilha não evoca de forma alguma as cores opacas e a tradição medieval sugerida pelo desenho. Em minha opinião, Cussy de Almeida teria sido um nome melhor para compor uma peça digna do brilhantismo nordestinamente psicodélico de Boi Aruá.
No mais é uma obra brilhante que vale à pena ser assistida diversas vezes.












