Comprei em mídia física pela Saraiva, mas, como não está mais disponível, vão aí outros links:
Trilha-sonora: https://www.youtube.com/watch?v=45xjLeRvA0E
Aritana e a Pena do Uiruuetê
Aritana e a Pena da Harpia é um dos meus jogos favoritos. Definitivamente é um dos melhores já feitos no Brasil. O jogo é bom, mas é bom com força. Tive a sorte de comprá-lo em mídia física, quando ele foi lançado. Essa versão vinha com uma chave de ativação do Steam, que mais tarde recebeu uma atualização chamada Espírito de Fogo, que além de melhorar a otimização, trouxe alguns extras.
Mesmo sendo um jogo independente, ele possui qualidades de um jogo de alto padrão. Em geral eu costumava compará-lo ao Rayman Origins (outro jogo de plataforma muito divertido). A diferença é que para mim o Rayman Origins, com o tempo, foi perdendo um pouco da graça e Aritana e a Pena da Harpia ainda se mantém. No quesito diversão, Aritana me lembra muito os jogos antigos que eu costumava jogar quando criança. Definitivamente é um jogo que eu gostaria de ter jogado quando criança, só para ter nostalgias infantis quanto a ele.
Um grande mérito, a propósito, é pensar que os desenvolvedores conseguiram provar com esse jogo que é possível criar algo com aquela mesma diversão à moda antiga sem precisar recorrer a métodos como pixel-art e música 8 ou 16 bit.
PRÓS
- Jogabilidade: Além de ser um jogo de plataforma ao estilo clássico, os controles são muito bem responsivos, o que é algo a se louvar quando se diz respeito a um jogo de plataforma com momentos de precisão. A mecânica envolve alternar entre os modos de ataque e velocidade. No modo de ataque você anda devagar e salta pouco. No modo de velocidade você corre, salta alto, mas não ataca. No entanto esses modos trocam automaticamente no modo fácil (o modo difícil só é habilitado depois de zerar o jogo pela primeira vez).
- Arte: Toda a arte gráfica é muito bonita, sem comentários.
- Trilha sonora: É com certeza um dos pontos altos de jogo. Uma trilha sonora orquestrada com temas memoráveis.
- Arte das cutscenes: Tal como a arte gráfica de todo o jogo, a arte das cutscenes são muito bonitas e tem um estilo único.
- Dificuldade: Quando o jogo foi lançado eu li e ouvi várias reclamações sobre o jogo ser muito difícil. Confesso que nunca achei isso e agora acho menos ainda com a atualização Espírito de Fogo que facilitou muito vários aspectos da jogabilidade e ainda criou um modo de "Novo jogo +" que, aí sim, apresenta o modo mais difícil para os que curtem um pouco mais de desafio. E mesmo esse modo mais difícil é, para mim, um difícil jogável - diferente de certos jogos quase impossíveis de zerar (como o Oniken). A bem da verdade, o nível fácil dá um gosto de desafio para um jogador casual e o nível difícil dá um gosto de desafio para o jogador hardcore.
CONTRAS
- Confesso que, na minha exclusiva opinião, o Aritana e a Pena da Harpia não tem nenhum contra. Nesses casos eu costumo pesquisar para saber o que outras pessoas acham ruim sobre o jogo, mas, nesse caso, as reclamações que encontrem dizem respeito à frustração gerada pela alta dificuldade. Essa reclamação, no entanto, já não é mais válida desde a atualização Espírito de Fogo e outras atualizações menores que adaptaram de forma melhor a jogabilidade ao seu público.
HISTÓRIA
A história desse jogo é simples, como um jogo de plataforma normalmente demanda. O cacique está possuído por maus espíritos e o pajé anuncia à tribo que para libertar o chefe desses espíritos é preciso completar um colar de penas com uma pena da harpia que mora no alto de um monte. Aritana, aprendiz do pajé, na ânsia de curar o líder, rouba o cajado do pajé e parte em sua aventura até o alto da montanha. Nesta jornada o jovem Aritana irá enfrentar alguns espíritos da floresta e o monstro Mapinguari, o devorador de homens.
Um ponto positivo que encontro nessa simples história é evitar alguns clichês comuns não apenas no mundo dos games, mas nas narrativas em geral. O primeiro clichê a evitar é o da donzela em perigo. Há alguém em perigo, isso é certo. O cacique. No entanto, além de não se tratar de uma donzela indefesa, também não se trata de um alvo de desejo pessoal. O bem estar do cacique preocupa a toda tribo, lutar pelo cacique é lutar por todo o seu povo.
Assim como o bem do cacique representa o bem da tribo, o vilão representa um perigo a todos. Ele não é alguém que existe para prejudicar exclusivamente o herói, ou que venha fazer mal a qualquer pessoa exclusivamente ligada ao herói ou que queira, por qualquer motivo, impedir que o herói chegue em seu objetivo. É o Mapinguari, um monstro devorador de pessoas. O que ele quer é apenas devorar o herói e pronto.
Outro clichê evitado, no meu ponto de vista, é boa parte da jornada do herói. Não temos aqui um personagem que é forçado a seguir uma aventura que tenta evitar. Ele não cai em um abismo para morrer e renascer, passando por um estado de transformação. Não é orientado por um sábio ou por intervenções sobrenaturais. Ao retornar ele, de fato, trás o elixir da vida, aqui representado pela pena da harpia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Talvez a única falha do jogo é que faltou uma certa participação autóctone. Talvez fosse ainda mais interessante se, tal como Huni Kuin, o jogo fosse sobre uma história comum de alguma tribo e fosse possível ouvir a voz indígena sendo falada. Sem isso é possível sentir que Aritana e a Pena da Harpia é uma versão moderna de O Guarani, de José de Alencar. No entanto, isso é um outro debate.
Como eu falei anteriormente, é um dos meus jogos prediletos. Não tenho do que reclamar de forma geral. É esteticamente agradável, a música é excelente, é divertido, é tecnicamente bem urdido e é brasileiro, tanto a equipe quanto o tema.



