Apenas um jogo
Comprei ele pelo site oficial: https://jamboeditora.com.br/produto/o-desafio-dos-deuses-game/
Eu não sei o que foi divulgado no período pré-lançamento desse jogo, não sei qual foi a propaganda, mas lembro de ter ouvido e lido pesadas críticas sobre ele.
Eu não sei o que foi divulgado no período pré-lançamento desse jogo, não sei qual foi a propaganda, mas lembro de ter ouvido e lido pesadas críticas sobre ele.
Sei que teve uma campanha bem sucedida no catarse que angariou meros 74 mil e alguma coisa. Sim... meros 74 mil, porque, ainda que a meta fosse 60 mil, sabemos que no mundo dos games, qualquer coisa que fique abaixo dos 100 mil é muito pouco para desenvolver um. Toren teve um investimento total de 350 mil, contando com os 75 mil da lei Rouanet. A Lenda do Herói, dos Castro Brothers, foram 258 mil numa campanha épica no Catarse. 258 mil reais para um jogo de plataforma em duas dimensões com gráficos pixelizados cuja única característica realmente inovadora (e é aí que eu imagino que grande parte do dinheiro foi) é que a trilha sonora cantada narra os feitos do jogador. Não falo isso tentando diminuir o jogo A Lenda do Herói, muito pelo contrário, falo isso para deixar claro o quanto esse mercado demanda uma grana preta para que um game consiga sair do papel e atingir os computadores e consoles. Retomando, até onde eu sei Tormenta: O Desafio dos Deuses recebeu um investimento de 75 mil reais, o que é muito pouco.
Às vezes penso que as pessoas criticam um game não pelo que ele é, mas pelo o que ele não é, principalmente quando estamos falando de produto nacional. Sempre que um novo "grande" game brasileiro está para ser lançado, esperam que seja da qualidade dos das grandes distribuidoras como EA ou Ubisoft e se esquecem de que se trata de um game feito com baixíssimo orçamento, uma equipe minúscula que, algumas vezes, mal sabe programar. É mais ou menos o caso desse. Tendo sido desenvolvido em parte pela Universidade Feevale, imagino que uma soma dos programadores eram alunos.
Então... antes de tudo, para evitar qualquer injustiça:
O que não é?
Definitivamente não é um RPG de uma grande distribuidora, que conta com um investimento milionário e uma equipe gigantesca de, não só programadores, mas também artistas conceituais, modeladores 3D, animadores, musicistas e etc. e tal.
O que ele é?
Um beat'em up com elementos de RPG, adaptado de um RPG de mesa, publicado pela Jambô. Ainda assim é um projeto pequeno, de baixo orçamento e parcialmente desenvolvido por alunos de uma universidade.
Como eu disse antes, não sei o que as pessoas esperavam. Por ser uma adaptação de RPG de mesa, talvez esperassem algo no estilo Heroes of Might & Magic, talvez? Ou quem sabe Ultima? De qualquer forma ele está mais para um Golden Axe ou Dungeons & Dragons: Chronicles of Mystara. Ainda assim, condená-lo por isso me parece errado. É julgar algo pelo que ele não é.
Se esperavam algo muito grande, particularmente eu não esperava nada mais do que um jogo minimamente divertido.
Postulado o que esse jogo é e o que ele não é, 'bora então tentar fazer uma análise minimamente justa.
Postulado o que esse jogo é e o que ele não é, 'bora então tentar fazer uma análise minimamente justa.
PRÓS
- Cooperativo. Poder ser jogado em modo cooperativo local é, talvez, o ponto mais alto do jogo.
- Arte visual. Nessa parte não se pode negar. A arte é toda (ou quase toda) muito boa. Não há nada de espetacular, que fala arregalar os olhos, mas em geral é tudo muito bonito. Os cenários são muito bem feitos e as cut-scenes (que são ao estilo japonês meio visual-novel) são realmente lindas. O rosto dos personagens enquanto dialogam ficaram legais, mas confesso que achei o Samson meio esquisito quando ele está sorrindo. A arte dos personagens durante a jogatina realmente também não é muito louvável. Não é ruim, é apenas... "morno".
- Sistema de evolução. O elemento básico de qualquer RPG que vem sendo, há muito, transportado para outros estilos. Eu achei bem interessante o desse jogo, pois me pareceu bem versátil, cada item que você evoluir pode, não tanto no "poder" do personagem, mas bastante na sua maneira de jogar.
- Mídia física. Se você é como eu que quer ter algo para pegar e abrir, quer um manual de instruções para folear, colocar o disco no computador e etc. e tal, então isso é um ponto positivo. Coisa rara esses dias, principalmente quando se trata de jogos independentes.
- Conteúdo extra. Ainda que não seja muita coisa, além do jogo o disco trás a trilha sonora e uns dois papéis de parede.
- Controles. Um ponto que achei realmente negativo é impossibilidade de alterar a combinação de teclas. Os comandos para teclado são pouco intuitivos. Os para controles não funcionam como deveriam. Não sei para qual controle eles planejaram, mas usando o controle para X-Box 360 os comandos ficam todos loucos, completamente incompatível com o indicado no manual e, como não é possível mudar os comandos, ele vai ficar estranho mesmo. Estranhamente, ele só foi funcionar como o esperado quando usei o Steam para iniciar o programa.
- Trilha-sonora. Todas as músicas, como praticamente tudo nesse jogo, são simplesmente "mornas". Em geral as trilhas servem para aumentar a imersão, criar um ambiente sonoro compatível à fase ou às cut-scenes e, o que vem sendo esquecido em muitos jogos, apresentar um tema memorável. Aqui, infelizmente, nada disso funciona. Em geral as músicas são genéricas e incompatíveis com a ação que deveria suscitar, principalmente nos chefes. Também não há tema algum que seja minimamente memorável. Todas as músicas servem apenas para não deixar o jogo silencioso.
- Nomes em inglês. Isso é algo muito particular, mas há um clichê que eu odeio é o uso de nomes em inglês em jogos lusófonos com estética medieval. Principalmente quando se trata de nomes que possuem um correspondente em Português ou nomes com significado. O motivo é simples: a Idade Média foi marcada pelo nascimento das línguas latinas (cientificamente chamadas de línguas românicas). Português, Francês, Ocitano, Casteleano, Catalão, Aragonês e inclusive o Moçárabe (que nasceu e morreu na Idade Média). Todas essas línguas estavam em ebulição naquela época, portanto não há motivos de achar que inglês seja "mais medieval" do que outras línguas europeias. Portanto, deprecio o uso de nomes como Samson, Ironfist e Shapblade. Particularmente prefiro algo mais à moda de WarCraft, que traduz os nomes topográficos para nossa língua, como Ventobravo, Altaforja ou Luaprata.
- Não há mídia digital. Eu sei que logo acima eu marquei a mídia física como ponto positivo, e mantenho essa opinião. Entretanto se considerarmos que hoje todos os jogos estão disponíveis em meio 100% digital, como o Steam, GOG, itch.io, e etc. é quase um pecado que esse jogo não esteja também disponível em alguma dessas plataformas. Antes era possível comprá-lo em mídia digital pelo Splitplay, mas essa plataforma foi fechada há alguns anos.
- Ausência de instalador. Não é um ponto realmente negativo, afinal, basta copiar e colar a pasta do jogo em um lugar qualquer e pronto. Fácil e rápido. O problema é que a ausência de um instalador enfatiza o caráter amador que o jogo tem. Como eu disse, não é realmente um ponto negativo, apenas um efeito placebo às avessas.
ANÁLISE DA HISTÓRIA
Passa-se em Arton, um lugar cheio de problemas épicos e grandes heróis, como qualquer RPG; como Mystara, como Lodoss, como Yuria. Dois soldados do exército de Lady Shivara Sharpblade, o guerreiro humano Samson e a arqueira elfa Selleniarandalla, estão para lutar contra a Tormenta: uma tormenta, realmente, com chuvas ácidas, que serve como portal para uma horda de demônios chamados Lefeu, que matam ou corrompem.
O narrador dessa história é Niebling, um duende que não pertence a Arton e que, a única serventia é a de narrador realmente. Se esse narrador não tivesse nome nem imagem, também não faria diferença.
Ao encontrar o chefe dos Lefeu os dois soldados são facilmente dominados, mas antes que morressem, são transportados para um mundo metafísico pelos deuses de Arton. Os deuses revelam, não estão vivos, mas que não realmente mortos também. Os deuses então dizem que irão mandá-los para pontos da história em que as pessoas precisaram de heróis, para que dessa forma pudessem se treinar e fortalecer para o embate final contra Gatzvalith, o lorde da Tormenta.
Contudo, apesar de voltarem no tempo e derrotarem esses vilões, eles são sempre transportados antes que possam dar um golpe final e, dessa forma, são impedidos de mudar a história de Arton. No momento em que ficam fortes o suficiente para lutar contra o lorde da Tormenta, eles lutam, vencem e tudo fica em paz. Visto que seus corpos físicos foram corrompidos pela Tormenta e como eles não podem permanecer naquele reino divino, o grande prêmio dois guerreiros é uma morte heroica e honrada.
Viverão para sempre nos versos dos bardos.
Eu imagino que os roteiristas planejaram alguma grande lição de moral sobre heroísmo, mas confesso que não sei qual é. Talvez que não é possível mudar a história e por isso precisamos lidar com isso e seguir em frente; talvez que os verdadeiros heróis lutam pelos seus deuses sem medir as consequências (espero que não, seria uma péssima lição de moral). Talvez não tenha uma lição de fato e os temas trabalhados aqui sejam apenas para adaptar a obra aos clichês do gênero. O martírio dos heróis aqui é apenas um recurso literário necessário a uma narrativa de pouca imaginação.
Seja como for, não acho que faz diferença. A história é tão morna quanto as dos beat'em' ups clássicos que eu jogava quando nem me importava com ela pois eu não sabia ler em inglês. Sua única função é a de justificar a ação e isso ela faz bem.
VEREDITO
Bem... A verdade é essa: não há motivos para louvar esse jogo; também não há motivos para denegri-lo. É só um jogo como qualquer outro, sem nada de marcante. Talvez a história tenha alguma validade aos que jogaram o RPG de mesa. A mim, que nunca joguei os RPGs, ela não cativa, mas justifica bem a ação. Nesse aspecto me lembra bastante Golden Axe e outros semelhantes. Eu nunca soube a história desses games, o importante era só a pancadaria, passar de fase e enfrentar os chefões, o importante era só a diversão.
E no que diz respeito à diversão...
Vale à pena pela jogabilidade. Explorar as diversas possibilidades de preencher a ficha do personagem é um fator interessante. O fato de ter dois personagens de estilos completamente diferentes também faz valer a pena jogar mais de uma vez. Poder jogar com dois jogadores também ótimo. O ritmo é um pouco lento, mas nada que chateie, pelo não me chateou.
Vale à pena pela jogabilidade. Explorar as diversas possibilidades de preencher a ficha do personagem é um fator interessante. O fato de ter dois personagens de estilos completamente diferentes também faz valer a pena jogar mais de uma vez. Poder jogar com dois jogadores também ótimo. O ritmo é um pouco lento, mas nada que chateie, pelo não me chateou.
Os únicos problemas reais são a falta de opção para reconfigurar o controle e a música pouco cativante.
Fora isso é um game completamente morno.
Dá pra divertir por um tempo.






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